quarta-feira, 22 de setembro de 2010

FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DE LARANJAL ENTRAM EM GREVE Prefeito afirma ter dado choque de gestão para pagar dívidas de outros mandatos


Trabalhar para que no final do mês recebam seu salário e os benefícios básicos de um profissional contratado com carteira assinada. É exatamente essa a causa dos funcionários públicos de Laranjal fazerem a reivindicação. Na cidade com aproximadamente sete mil habitantes, 240 são funcionários da Prefeitura. Destes, cerca de 50 entraram em greve ontem, 22, cortando totalmente o setor de serviços gerais, além do que, possivelmente hoje os professores também paralisam.
O pedido é para que haja algumas alterações no Estatuto dos Servidores Públicos Municipais, criado no ano de 2005, que contem os direitos básicos da categoria. Nele, a advogada do Sindicato dos Servidores, Zélia Couri, afirma haver uma legislação que é contrária aos interesses dos profissionais.
Uns dos exemplos apontados é a jornada de trabalho de 44 horas semanais, e a questão dos qüinqüênio (é uma vantagem adicional, normalmente paga a servidores estatutários e estáveis, após cumprirem o estágio probatório e terem sem interrupção exercido cargo ou função por cinco anos na mesma unidade administrativa). Na cidade esse valor corresponde a porcentagem de 7% para o magistério e outros servidores entre 5% a 3% . “Laranjal, até hoje, é o único município ate hoje na região que tem o qüinqüênio diferenciado e a jornada de 44 semanais. Essas distorções afrontam a carta magna do país no artigo V que fala da igualdade de todos perante a lei. Afronta o artigo 19 inciso 3 da Constituição que veda o tratamento distinto entre brasileiros”, explica a advogada a respeito do respaldo legal da reivindicação.
Outras reclamações dos funcionários giram em torno do pagamento dos adicionais de salubridade, férias atrasadas e baixo valor do cartão alimentação que varia conforme o cargo do profissional, sendo de R$30 a R$50. Funcionários, estes, como o senhor Edmar Ferreira de Matos. Ele trabalha há 11 anos no setor de serviços gerais. Casado e tendo dois filhos também depende da renda da esposa para o sustento de casa. Segundo ele, há dois anos esta com as férias acumuladas e não consegue resolver a situação. Além disso ele ressalta, que apesar de pouco os R$30 que recebe para alimentação é fundamental para o orçamento de casa. “O ruim é que falaram que com esse corte futuramente iria nos beneficiar, mas não cumpriram. Caso eu falte no trabalho eu perco o beneficio do cartão, se eu perder não como”.
“Esse corte” que o senhor Edmar falou é o choque de gestão que o prefeito Walmir Garcia Mendes aplicou. Segundo ele, em seu primeiro mandato, recebeu como herança várias dívidas. Só com o INSS assumiu uma conta de um milhão de reais, que esta sendo paga por um re-parcelamento. As outras, são referentes ao pagamento de FGTS e dois meses de salário atrasado. “A falta de quitação dessas dívidas ocasionou em processos e quem tem que pagar? É no meu mandato. Ou seja, além dos meus compromissos como prefeito, ainda tenho que assumir compromisso dos outros. Por isso o choque de gestão”. O prefeito ainda ressalta que caso não sanasse as contas o município poderia perder vários recursos e verbas do Governo Federal e Estadual.
Quanto à greve, ele diz ser desnecessária, já que o importante, para o funcionário publico, deveria ser o aumento anual do salário, e não o qüinqüênio. Mas ao estudar o estatuto, assumiu haver erros quanto a esse benefício. “Eu reconheço que temos que regularizar é a diferença entre os professores e os demais funcionários em relação qüinqüênio, mudando de 5% para igualar todos a 7, mas essa porcentagem, conforme o que eles pedem, não pode ser de 10%. O município não comporta”.
O que se sabe é que a prefeitura de Laranjal não pode ultrapassar os limites percentuais da lei de responsabilidade fiscal que é de 51,3. Segundo atualmente já utiliza 49%. Se eles fizerem o aumento no qüinqüênio ficaram endividados e penalizados. “Eles precisam entender que eu estou cumprindo a lei. A prioridade da administração é o salário, tanto que eles sempre recebem em dia e o aumento anual. Agora, se eu atender a essa exigência possivelmente no futuro vai gerar outra briga por aumento salarial”.
Ainda nessa quarta-feira (22) houve uma reunião entre a administração pública com representantes do Sindicato de Servidores Públicos de Laranjal. Um grande dilema foi travado, já que o prefeito exigia que o serviço de coleta de lixo e limpeza voltasse antes da reunião, já o Sindicato explicou que os funcionários só voltam a trabalhar no momento em que fosse enviada uma nova proposta de estatuto para votação na câmara de vereadores. Enquanto a classe pedia pressa nas mudanças da legislação, o prefeito pedia calma: “ Não vejo porque ter tanta pressa para a mudança do estatuto. Em Muriaé, por exemplo, demorou dois anos, só para que fosse aprovado e os funcionários querem isso em dois meses”.
Ao que tudo indica a negociação deve demorar. A prefeitura deve fazer orientações no estatuto, mas não totalmente conforme exige a classe dos servidores. Enquanto isso, pelo menos até o fechamento dessa edição, os funcionários de Laranjal continuam em greve.

Um comentário:

  1. Parabéns a toda a categoria. É na luta que nos formamos para uma luta maior, a luta por uma sociedade socialista.
    Quanto ao percentual da Lei de Responsabilidade Fiscal, vale lembrar que tudo o que for pago com a verba do Fundeb não será contabilizado para este percentual. Essa é a afirmação do Ministério da Educação. Ainda deve estar no site, em uma explicação sobre a verba do Fundeb. Vale a pena baixar o material para analisar e jogar na mesa de negociação.
    Saudações sindicais,
    Péricles de Lima - Presidente da CUT Regional Zona da Mata/MG

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